segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dia do Trânsito

Dia do Trânsito

Comemora-se, no dia 25 de setembro, o dia nacional do trânsito.
De acordo com o artigo primeiro, § 1º da lei de trânsito em vigor no Brasil, “Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.”
O trânsito é importante para a economia de um país, por interligar produções industriais ou naturais aos consumidores, através dos meios de transporte. Além disso, proporcionando o fluxo de pessoas para o trabalho, escola, médico, diversão, etc.
Pode ser dividido de acordo com as vias que utiliza, sendo terrestres, aéreas ou marítimas, todos controlados por uma legislação específica.
No trânsito, existem os órgãos especiais, que são responsáveis pelos diferentes setores, como: secretarias municipais de trânsito; DETRAN, COTRAN, etc., que são responsáveis pela sinalização e pela manutenção das condições de uso das vias públicas.
As sinalizações de trânsito são universais, adotando-se a mesma simbologia em todo o mundo, a fim de auxiliar os motoristas em suas viagens.
Nas vias terrestres de todo o território nacional, o tráfego é regulamentado pela Lei nº 9.503, que implantou o novo Código Nacional de Trânsito, entrando em vigor a partir de 1997.
Antes disso, as leis de trânsito estavam muito frouxas, pois o Código utilizado era de 1966, que já estava ultrapassado.
Devido ao aumento do número de carros, adquiridos pela população, passamos a enfrentar grandes movimentações nas cidades. Por ter uma lei que não punia casos graves de imprudência no trânsito, muitos motoristas adotaram um estilo violento de dirigir, causando sérios problemas, chegando a causar acidentes graves e mortes.
Com a adoção da nova lei as normas ficaram mais rígidas, exigindo-se uma postura mais ética do motorista, além de determinar fiscalização rigorosa no veículo – no ato do licenciamento do mesmo. Outro artigo importante da lei é quanto à aplicação de multas, com o sistema de pontuação na carteira do motorista, em consequência ao número de multas levadas.
A pontuação varia de acordo com o tipo de multa: quanto mais grave for a infração, maior o número de pontos ganhos. Com isso, o motorista que somar 20 pontos terá sua carteira apreendida, tendo que passar por um curso de educação para o trânsito, com orientação sobre segurança e manutenção da qualidade no trânsito.
São várias as infrações, mas as consideradas mais graves são: dirigir sem a carteira de habilitação, dirigir com velocidade excessiva à determinada, dirigir após o consumo de bebida alcoólica, todas consideradas gravíssimas. Além dessas, as infrações também são classificadas em graves, médias e leves, tendo cada uma a pontuação específica.
Segundo a Lei, a educação para o trânsito deve ser adotada nas escolas, desde as séries iniciais, a educação infantil, transcorrendo pelo ensino fundamental, ensino médio e ensino superior, a fim de educar os cidadãos fazendo-se um trabalho de conscientização dos mesmos.

Dia do rádio e da radiodifusão


25 de Setembro - Dia do Rádio e da Radiodifusão

A primeira emissora de rádio no Brasil, foi fundada em 20 de abril de 1923, tendo como fundador Edgar Roquete Pinto, na Academia Brasileira de Ciências, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro com o prefixo PRA-A. Logo depois veio a Rádio Clube do Brasil PRA-B, fundada por Elba Dias.
Em São Paulo/SP a primeira Emissora foi a EDUCADORA PAULISTA, fundada em 1924 e em Belo Horizonte a primeira rádio foi a RÁDIO MINEIRA fundada em 30 de maio de 1936. Hoje, lamentavelmente fora do ar. Mas, a primeira transmissão do Rádio foi no dia 07 de setembro de 1922, durante a exposição comemorativa do centenário da independência.
O discurso do então Presidente da República, Epitácio pessoa, além de ser ouvido no recinto da exposição, chegou também em Niterói, Petrópolis e São Paulo, graças à instalação de uma retransmissora no Corcovado e de aparelhos de recepção nesses locais. Hoje são milhares de rádios espalhadas pelo país, levando alegria , entretenimento e informação para um Brasil de audiência, e principalmente ao ouvinte que sempre fez do Rádio, seu grande companheiro. Dia 25 de setembro, Dia do Rádio.
Sobre o Radialista Na época, quando fundou a primeira emissora de Rádio do Brasil, não existiam escolas para formação de Radialistas. Foram os Radiamadores os primeiros locutores, por já possuírem experiência com microfones. Uma característica era fazer uma programação cultural, que consistia em música Erudita, conferência e palestras que não interessavam ao ouvinte.
Na Era do Rádio, o grande astro era "Vital Fernandes da Silva", o "Nhõ Totico", que permaneceu no ar por 30 anos. O mais incrível é que nesta época ele apresentava dois programas ao vivo e totalmente improvisado. Nos dias de hoje, com um ouvinte mais exigente, o radialista precisa de muita técnica e ter um padrão que se identifique com cada emissora.
Mas o ponto em comum entre eles tem que ser o carisma. Dentro de cada Radialista existe um inexplicável sentimento de dedicação e o interesse pelo que faz. Só o idealismo não é o suficiente, existe a necessidade do talento. Com milhares de bons Radialistas espalhados pelo Brasil, o Rádio é hoje rico.
Oferecendo boas opções para aquele que merece todo o nosso respeito. O ouvinte. O Radialista é um sonhador, um apaixonado que faz parte do cotidiano das pessoas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

 aqui está o  resumo do livro A cabana  leitura online


aqui esta o link para quem quiser ler o livro inteiro no modo flipSnack :
http://share.snacktools.com/56B7DEF569B/fzcfw9ik

leitura online


A cabana pg 76 a pg 108


— Agente? Você está aí?
— Sim, estou. - De repente a voz pareceu cansada e
oca. — Ei, Dalton, há algum lugar isolado onde você
e eu possamos conversar?
Mack assentiu com ênfase e Dalton captou a
mensagem.
— Espere um segundo. - Pousou o saco com o
broche e saiu da área, permitindo que Mack o
seguisse.
— Pronto, agora estou sozinho. Pode me dizer o que
é.
— Estamos tentando pegar esse cara há quase quatro
anos, perseguindo-o em mais de nove estados.
Recebeu o apelido de Matador de Meninas, mas
nunca repassamos o detalhe da joaninha para
ninguém, portanto mantenha isso em segredo.
Acreditamos que ele seja responsável pelo seqüestro
e morte de pelo menos quatro crianças até agora,
todas meninas, todas com menos de 10 anos. A cada
vez ele acrescenta um ponto à joaninha, de modo que
esta seria a de número cinco. Ele sempre deixa os
broches em algum lugar da área do seqüestro, todos
têm o mesmo número de modelo, mas não
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀚􀀙
conseguimos descobrir de onde eles vieram
originalmente nem encontrar o corpo de nenhuma
das quatro meninas, mas temos bons motivos para
acreditar que nenhuma delas sobreviveu. Todos os
crimes aconteceram em camping ou próximo de
camping, perto de um parque estadual ou uma
reserva. O criminoso parece se mover com habilidade
em florestas e montanhas. Não nos deixou, em todos
os casos, absolutamente nada além do broche.
— E o carro? Temos uma descrição bastante boa da
picape verde em que ele fugiu.
— Ah, vocês provavelmente vão encontrá-la. Se for
o nosso cara deve tê-la roubado há um ou dois dias,
repintado, enchido de equipamento para caminhadas,
e ela vai estar totalmente limpa.
Enquanto ouvia a conversa de Dalton com a agente
especial, Mack sentiu o resto de esperança se esvair.
Sentou-se frouxo no chão e enterrou o rosto nas
mãos. Pela primeira vez desde o desaparecimento de
Missy permitiu-se considerar o alcance das
possibilidades mais horrendas e, assim que isso
começou, não parou mais: imagens de coisas boas e
coisas terríveis misturadas num desfile apavorante.
Algumas eram instantâneos abomináveis de tortura e
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀚􀀚
dor, de monstros e demônios da escuridão mais
profunda, com dedos de arame farpado e toques de
navalha, de Missy gritando pelo pai e
ninguém respondendo. Misturados com esses
horrores havia lampejos de outras lembranças: a
menina aprendendo a andar, com o rosto lambuzado
de bolo de chocolate, fazendo caretinhas engraçadas.
Sobrepunha-se a todas a imagem tão recente de
Missy caindo no sono, aninhada no colo do pai.
Imagens implacáveis. O que ele diria a Nan? Como
isso podia ter acontecido? Deus, como isso podia ter
acontecido?
Algumas horas depois, Mack e seus dois filhos foram
de carro para o hotel, em Joseph. Os proprietários
haviam lhe oferecido um quarto e, enquanto ele
arrumava sua bagagem, a exaustão e o desespero
começaram a dominá-lo. O policial Dalton levara
seus filhos a uma lanchonete. Agora, sentado na
beira da cama, Mack dava vazão a todo o seu
sofrimento. Soluços e gemidos de rasgar a alma
saíam do âmago de seu ser, e foi assim que Nan o
encontrou. Dois seres feridos que se abraçaram e
choraram desconsoladamente.
Naquela noite, Mack dormiu aos sobressaltos, pois as
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀚􀀛
imagens continuavam a golpeá-lo como ondas
implacáveis contra um litoral rochoso. Pouco antes
do nascer do sol, por fim desistiu. Vivera em só dia
anos de emoções e agora sentia-se entorpecido, à
deriva num mundo subitamente sem significado.
Depois de protestos consideráveis de Nan,
concordaram que seria melhor ela ir para casa com
Josh e Kate. Mack ficaria para ajudar como pudesse.
Simplesmente não conseguiria ir embora, pensando
que Missy talvez estivesse por perto, precisando dele.
A notícia se espalhara rapidamente e amigos
começaram a chegar para ajudá-lo. Criou-se uma
forte rede de solidariedade, todos os conhecidos
rezando para que Missy fosse encontrada. Jesse e
Sarah, Emil e Vicky permaneceram o tempo todo,
desdobrando-se em cuidados.
Repórteres com seus fotógrafos começaram a
aparecer durante a manhã. Mack não queria enfrentálos,
mas acabou respondendo às perguntas na
esperança de que a divulgação pudesse ajudar na
busca.
Quando ficou evidente que a necessidade de ajuda
estava diminuindo, os Madison desmontaram seu
acampamento e vieram despedir-se. Choraram muito,
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀚􀀜
abraçaram-se longamente e colocaram-se à
disposição para o que fosse necessário. Vicky
Ducette também partiu, mas Emil permaneceu para
dar apoio a Mack. Em meio a toda a tristeza, Kate
manteve-se firme, enviando e recebendo e-mails para
que se mantivessem em comunicação permanente.
Ao meio-dia todas as famílias estavam na estrada.
Maryanne levou Nan e as crianças para casa, onde os
parentes estariam esperando. Mack e Emil
foram com o policial Dalton, que passaram a chamar
de Tommy, para Joseph, onde se dirigiram à
delegacia.
Agora vinha a parte mais difícil: a espera. Mack
sentia que estava andando em câmara lenta dentro do
olho de um furacão o grupo do FBI chegou ao meio
da tarde e logo ficou claro que a pessoa encarregada
era a agente especial Wikowsky, uma mulher
pequena e magra cheia de energia, de quem Mack
gostou no mesmo instante. Ela permitiu que ele
participasse de todas as providências e informes.
Depois de estabelecer o centro de comando no hotel,
o FBI pediu a Mack uma entrevista formal. A agente
Wikowsky levantou-se de trás da mesa onde estava
trabalhando e estendeu a mão. Quando Mack ia
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀓
apertá-la, a agente envolveu as mãos dele com as
suas e sorriu afetuosamente.
— Senhor Phillips, peço desculpas por não lhe ter
dado até agora a atenção que merece. Estamos
vivendo uma turbulência, estabelecendo
comunicações com todas as agências policiais
envolvidas na tentativa de resgatar Missy. Lamento
muito que tenhamos nos conhecido nessas
circunstâncias.
Mack suspirou fundo.
— Por favor, me chame de Mack.
— Bem, então me chame de Sam, que é a forma
abreviada de
Samantha.
Mack relaxou um pouco na cadeira, vendo-a
examinar rapidamente
algumas pastas cheias de papéis.
— Mack, está disposto a responder a algumas
perguntas? - ela
perguntou sem levantar a cabeça.
— Farei o máximo possível - ele afirmou, aliviado
pela oportunidade de
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀔
fazer alguma coisa.
— Bom! Não vou obrigá-lo a repassar todos os
detalhes. Estou com os
relatórios sobre tudo o que você já contou, mas tenho
umas coisas importantes para examinarmos juntos. -
Ela o olhou nos olhos.
— Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar -
concordou Mack. — No momento estou me sentindo
bastante impotente.
— Mack, entendo como você se sente, mas sua
presença é importante. E, acredite, todos aqui estão
dispostos a fazer o máximo possível para resgatar
Missy.
— Obrigado - foi tudo que Mack conseguiu dizer,
olhando para o chão. As emoções pareciam à flor da
pele e qualquer gesto de gentileza abria as comportas
para as lágrimas saírem.
— Mack - ela continuou -, você notou alguma coisa
estranha ao redor de sua família nestes últimos dias?
Mack ficou surpreso e se recostou na cadeira.
— Quer dizer que ele estava nos rondando?
— Não, ele parece escolher as vítimas ao acaso, mas
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀕
todas eram mais
ou menos da idade da sua filha, com cor de cabelo
semelhante. Achamos que ele as descobre um ou
dois dias antes e espera, vigiando de perto até
encontrar o momento oportuno. Você viu alguém
estranho próximo do lago? Talvez junto aos
banheiros? - Mack se encolheu ao pensar que seus
filhos estariam sendo vigiados. Esquadrinhou a
mente, mas não descobriu nada.
— Desculpe, não consigo lembrar...
— Você parou em algum lugar enquanto ia para o
camping ou notou alguém estranho quando estava
fazendo caminhadas?
— Nós paramos na cachoeira Multnomah, vindo
para cá, e estivemos em toda a região nos últimos três
dias, mas não me lembro de ter visto ninguém que
parecesse estranho. Quem pensaria...
— Exatamente, Mack, tenha paciência. Algo pode
voltar à sua mente mais tarde. Mesmo que pareça
pequeno ou irrelevante, por favor, nos conte. - Ela
olhou outro papel na mesa. - Que tal uma picape
verde-oliva? Você notou algo assim enquanto estava
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀖
por aqui?
Mack revirou a memória.
— Realmente não me lembro de ter visto nada do
tipo.
A agente especial Wikowsky continuou a interrogar
Mack durante os 15
minutos seguintes, mas não conseguiu despertar a
memória dele o suficiente para descobrir algo útil.
Por fim, fechou o caderno e se levan-tou estendendo
a mão.
— Mack, mais uma vez, lamento o que aconteceu
com Missy. Se descobrirmos alguma coisa, eu o
informarei imediatamente.
Às cinco da tarde finalmente chegou o primeiro
informe promissor e a agente Wikowsky colocou
Mack imediatamente a par. Dois casais haviam
passado por uma picape verde-oliva que
correspondia à descrição do veículo que estavam
procurando. Eles estavam em um trecho estreito da
estrada e tiveram que dar marcha à ré até um lugar
mais largo para permitir a passagem da picape.
Notaram que na carroceria havia várias latas de
gasolina, além de uma boa quantidade de material de
acampamento. Estranharam que o motorista tivesse
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀗
se curvado na direção do carona, como se procurasse
alguma coisa no chão, e estivesse usando um casaco
pesado num dia tão quente. Acharam graça daquilo e
seguiram em frente.
Quando essa notícia chegou, a tensão aumentou na
delegacia. Tudo que haviam descoberto até agora se
encaixava no modo de agir do Matador de Meninas,
e Mack foi informado.
Com a noite se aproximando rapidamente, iniciou-se
uma discussão sobre a melhor alternativa: fazer uma
perseguição imediata ou esperar até a manhã seguinte
logo ao nascer do dia. Todos pareciam
profundamente afetados com a situação.
De pé nos fundos da sala, Mack ouvia com
impaciência a discussão, aflito para que se tomasse
logo uma providência. Seu desejo era chamar
Tommy e ir pessoalmente atrás do assassino. Era
como se cada minuto contasse.
Depois de um tempo que pareceu excessivamente
longo para Mack, todos concordaram em dar início à
perseguição. Mack ligou rapidamente para falar com
Nan e partiu com Tommy.
Agora só lhe restava rezar: Santo Deus, por favor,
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀘
por favor, por favor, cuide da minha Missy, proteja-a,
não deixe que nada de mal lhe aconteça.
Lágrimas desciam por seu rosto e molhavam a
camisa.
Por volta das 7 horas, o comboio de radiopatrulhas,
utilitários do FBI, picapes com cães e alguns veículos
da Guarda Florestal seguiu pela auto- estrada até
entrar na Reserva.
Mack ficou satisfeito por viajar com alguém que
conhecia a área. As estradas, com freqüentes curvas
estreitas beirando precipícios, ficavam ainda mais
traiçoeiras na escuridão da noite. A velocidade foi
diminuindo até parecer que estavam se arrastando.
Por fim, passaram pelo ponto onde a picape verde
tinha sido vista pela última vez e um quilômetro e
meio depois chegaram a uma bifurcação. Ali, como
fora planejado, a caravana se dividiu em duas, com
um pequeno grupo indo para o norte com a agente
especial Wikowsky e os demais, inclusive Mack,
Emil e Tommy, indo na direção sudeste. Alguns
quilômetros difíceis mais tarde esse grupo se dividiu
outra vez, e nesse ponto os esforços de busca ficaram
ainda mais lentos. Agora os rastreadores estavam a
pé, apoiados por luzes fortes, enquanto procuravam
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀙
sinais de atividade recente nas estradas.
Quase duas horas mais tarde, Tommy recebeu um
chamado de Wikowsky. A cerca de 15 quilômetros
da bifurcação onde tinham se se- parado, uma estrada
antiga e sem nome saía da principal. Era praticamente
impossível de se ver no escuro e cheia de buracos.
Eles a teriam ignorado se a luz de um dos
rastreadores não tivesse se refletido numa calota de
veículo. Debaixo do pó da estrada havia manchas de
tinta verde. A calota
provavelmente fora perdida quando a picape passou
por um dos muitos buracos enormes do caminho.
O grupo de Tommy voltou imediatamente. O
coração de Mack batia aceleradamente com um
começo de esperança. Talvez, por algum mila-gre,
Missy ainda estivesse viva. Vinte minutos depois,
outra ligação de Wikowsky informava que haviam
encontrado a picape debaixo de uma engenhosa
armação de galhos e arbustos.
A equipe de Mack levou quase três horas para
alcançar a primeira equipe e, nesse ponto, tudo estava
acabado. Os cães haviam descoberto uma trilha de
caça que descia por cerca de um quilômetro e meio
até um pequeno vale oculto. Ali encontraram uma
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀚
cabana em ruínas à beira de um lago límpido
alimentado por um riacho cascateante. Cerca de um
século antes aquilo fora provavelmente à casa de um
colono, mas desde então provavelmente servia só
como abrigo para algum caçador ocasional.
Quando Mack e seus amigos chegaram, o céu estava
começando a clarear. Um acampamento-base fora
montado a certa distância da pe-quena cabana para
preservar a cena do crime. Todos se reuniram e
começaram a planejar a estratégia do dia.
A agente especial Samantha Wikowsky estava
sentada diante de uma mesa dobrável examinando
mapas quando Mack apareceu. Seus olhos
expressavam tristeza e ternura, mas suas palavras
foram totalmente profissionais.
— Mack, nós encontramos uma coisa, mas não é
boa.
Ele procurou as palavras certas.
— Encontraram Missy? - Ele temia terrivelmente a
resposta, mas estava
desesperado para ouvi-la.
— Não, não encontramos. - Sam parou e começou a
se levantar. —
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀛
Mas preciso que você identifique uma coisa que
encontramos na cabana. Preciso saber se era... - ela
se conteve, mas já falara no passado. — Quero dizer,
se é dela.
Mack sentiu que sua represa interna estava prestes a
arrebentar. — Vamos ver isso agora - murmurou
baixinho. — Quero resolver logo.
Mack sentiu Emil e Tommy segurando seus braços
enquanto seguiam a agente especial pelo curto
caminho até a cabana. Três homens adultos, de
braços dados numa solidariedade especial, andando
juntos em direção ao seu pior pesadelo.
Um membro da equipe de perícia abriu a porta da
cabana para deixá-los entrar. Refletores alimentados
por um gerador iluminavam cada parte da sala.
Havia prateleiras nas paredes, uma mesa velha,
algumas cadeiras e um sofá. Mack viu imediatamente
o que viera identificar. Virando-se, desmoronou nos
braços dos dois amigos e começou a chorar
incontrolavelmente. No chão, perto da lareira, estava
o vestido vermelho de Missy, rasgado e encharcado
de sangue.
Para Mack, os dias e semanas seguintes se tornaram
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀛􀀜
um borrão de entrevistas que entorpeciam as
emoções. Por fim, um funeral dedicado a Missy, com
um pequeno caixão vazio e um desfile interminável
de rostos tristes, ninguém sabendo o que dizer. Em
algum momento, nas semanas que se seguiram, Mack
iniciou o lento e doloroso reencontro com a vida
cotidiana.
Aparentemente o Matador de Meninas recebera o
crédito pela quinta vítima, Melissa Anne Phillips.
Assim como nos outros quatro casos, as autoridades
não encontraram o corpo da vítima, embora grupos
de busca tivessem revirado a floresta durante dias.
Como em todas as outras situações, o matador não
deixara nenhuma pista que pudesse ser seguida, só o
broche. Era como se estivessem lidando com um
fantasma.
Em algum ponto do processo, Mack procurou
emergir da dor e do sofrimento, pelo menos com sua
família. Eles haviam perdido uma irmã e uma filha e
seria terrível também perderem um pai e um ma-rido.
Ainda que todos tivessem sido profundamente
golpeados pela tragédia, Kate parecia a mais afetada,
escondendo-se numa casca como uma tartaruga para
se proteger de algo potencialmente perigoso. Mack e
Nan preocupavam-se cada vez mais com ela, mas
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀓
não conseguiam encontrar as palavras adequadas
para penetrar na fortaleza que a garota estava
construindo ao redor de si. As tentativas de conversa
se trans-formavam em monólogos, como se algo
tivesse morrido dentro dela e agora a estivesse
corroendo lentamente por dentro, derramando- se às
vezes em palavras amargas ou num silêncio
deprimido.
Josh se comunicava freqüentemente com Amber, o
que o ajudava a extravasar a dor. Além disso, estava
bastante ocupado preparando-se para a formatura no
ensino médio.
A Grande Tristeza havia baixado como uma nuvem
e, em graus diferentes, cobria todos os que tinham
conhecido Missy. Mack e Nan en- frentavam juntos
o tormento da perda, sentindo-se mais próximos do
que nunca. Nan repetia seguidamente que não
culpava de modo algum Mack pelo que acontecera.
Mack, porém, levou muito mais tempo para se livrar
de todos os "se" que o levavam ao desespero. Se ele
tivesse decidido não levar as crianças naquela
viagem; se tivesse recusado quando elas pediram
para usar a canoa; se
tivesse ido embora à véspera; se, se, se. Não ter
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀔
podido enter-rar o corpo de Missy ampliava seu
fracasso como pai. O fato de ela ainda estar em
algum lugar, sozinha na floresta, assombrava-o todos
os dias. Agora, três anos e meio depois, Missy era
considerada oficialmente vítima de assassinato. A
vida nunca mais seria a mesma. A ausência de Missy
criava um vazio absurdo.
A tragédia também havia aumentado a fenda no
relacionamento de Mack com Deus, mas ele não se
dava conta dessa separação crescente. Em vez disso,
tentava abraçar uma fé estóica e desprovida de
sentimen-tos que lhe trazia algum conforto e paz,
porém não eliminava os pesa-delos em que se via
com os pés presos na lama e sem voz para dar os
gritos que salvariam sua preciosa Missy. Aos poucos
os pesadelos foram se tornando menos freqüentes e
os momentos de alegria começaram a despontar,
fazendo Mack sentir-se culpado.
Assim, receber o bilhete assinado Papai, dizendo
para encontrá-lo na cabana, causou-lhe um profundo
impacto. Será que Deus escreve bilhetes? E por que
na cabana - o ícone de sua dor mais profunda?
Certamente Deus teria lugares melhores onde se
encontrar com ele. Um pensamento sombrio chegou
a atravessar sua mente: o assassino o estaria
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀕
provocando ou atraindo para longe com a intenção
de deixar sua família desprotegida. Talvez fosse
somente uma brincadeira cruel. Mas por que estava
assinado "Papai"?
Por mais irracional que parecesse, Mack não
conseguia deixar de pensar que talvez o bilhete
viesse mesmo de Deus. Quanto mais pensava, mais
confuso e irritado ia ficando. Quem havia mandado a
porcaria do bilhete? Fosse quem fosse, Mack tinha a
sensação de que estavam brincando com ele. E, de
qualquer modo, de que adiantava?
Mas, apesar da raiva e da depressão, Mack sabia que
precisava de respostas. Percebeu que estava travado e
que as orações e os hinos dos domingos não serviam
mais, se é que já haviam servido. A espiritualidade
do claustro não parecia mudar nada na vida das
pessoas que ele conhecia, a não ser, talvez, na de
Nan. Mas ela era especial. Mack estava farto de Deus
e da religião, farto de todos os pequenos clubes
sociais religiosos que não pareciam fazer nenhuma
diferença expressiva nem provocar qualquer
mudança real. Mack certamente desejava mais.
Porém não sabia que estava a ponto de conseguir
muito mais do que havia pedido.
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀖
ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR
Rotineiramente desqualificamos testemunhos e
exigimos comprovação. Isto é, estamos tão
convencidos da justeza de nosso julgamento que
invalidamos provas que não se ajustem a ele. Nada
que mereça ser chamado de verdade pode ser
alcançado por esses meios. - Marilynne Robinson,
The Death of Adam
Há ocasiões em que optamos por acreditar em algo
que normalmente seria considerado absolutamente
irracional. Isso não significa que seja mesmo
irracional, mas certamente não é racional. Talvez
exista a supra-racionalidade: a razão além das
definições normais dos fatos ou da lógica baseada em
dados. Algo que só faz sentido se você puder ver
uma imagem maior da realidade. Talvez seja aí que a
fé se encaixe.
Mack não tinha certeza de um monte de coisas, mas
em algum mo- mento em seu coração e em sua
mente, nos dias que se seguiram à nevasca, ele se
convenceu de que havia três explicações plausíveis
para o bilhete. Podia ser de Deus, por mais absurdo
que isso parecesse, podia ser uma piada cruel ou algo
mais sinistro vindo do assassino de Missy.
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀗
Independentemente de qualquer coisa, o bilhete
dominava seus pensa-mentos dia e noite.
Secretamente começou a fazer planos para viajar até
a cabana no fim de semana seguinte. A princípio não
falou com ninguém, nem mesmo com Nan, achando
que uma conversa assim só traria mais dor. "Estou
mantendo segredo por causa de Nan", dizia a si
mesmo. Além disso, falar do bilhete seria admitir que
guardasse segredos. Algumas vezes a honestidade
pode ser incrivelmente complicada.
Decidido a empreender a viagem, Mack começou a
pensar em modos de afastar a família de casa durante
o fim de semana sem levantar suspeitas. Felizmente
foi a própria Nan quem ofereceu a solução. Ela
estivera pensando em visitar a família da irmã nas
ilhas Sam Juan, no litoral de Washington. Seu
cunhado era psicólogo infantil e Nan achava que
poderia ser útil conversar com ele sobre o
comportamento cada vez mais fechado de Kate.
Quando ela levantou a possibilidade da viagem,
Mack reagiu quase ansioso demais.
— Claro que vocês vão - ele afirmou imediatamente.
Não era a resposta que ela havia previsto e Nan lhe
lançou um olhar interrogativo. — Quero dizer -
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀘
consertou ele, sem jeito -, é uma idéia fantástica. Vou
sentir falta de vocês, claro, mas acho que posso
sobreviver sozinho uns dois dias e, de
qualquer modo, tenho um monte de coisas para fazer.
- Ela deu de ombros, talvez grata porque o caminho
para a viagem tivesse se aberto com tanta facilidade.
Bastou um rápido telefonema à irmã de Nan e a
viagem foi acertada. Logo a casa virou um turbilhão
de atividades. Josh e Kate ficaram deliciados com a
perspectiva de visitar os primos e compraram fácil a
idéia.
Disfarçadamente, Mack telefonou para seu amigo
Willie pedindo seu jipe emprestado. O pedido
estranho, como era de se prever, provocou um
tiroteio de perguntas que Mack tentou responder do
modo mais evasivo possível. Terminou dizendo que
explicaria tudo quando Willie aparecesse para trocar
os veículos.
No fim da tarde de quinta-feira, depois de despedir-se
de Nan, Kate e Josh, Mack começou a preparar-se
para a longa viagem ao Nordeste do Oregon - o local
de seus pesadelos. Sem dúvida havia a possibili-dade
de ter se transformado num idiota completo ou de
estar sendo vítima de uma brincadeira de mau gosto,
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀙
mas nesse caso ficaria livre para simplesmente ir
embora. Uma batida na porta arrancou-o de sua
concentração e ele viu que era Willie.
— Estou aqui na cozinha - gritou.
Um instante depois Willie apontou a cabeça pela
porta do corredor.
— Bom, eu trouxe o jipe e o tanque está cheio, mas
só vou entregar a
chave quando você contar exatamente o que está
acontecendo.
Mack continuou enfiando coisas em dois sacos de
viagem. Sabia que
não adiantava mentir para o amigo.
— Vou voltar à cabana, Willie.
— Bom, eu já tinha imaginado. O que quero saber é
por que você
pretende voltar lá. Não sei se o meu velho jipe vai
dar conta do recado, mas, como garantia, coloquei
umas correntes atrás para o caso de precisarmos.
Sem olhar para ele, Mack foi até o escritório, tirou a
tampa de uma lata pequena e pegou o bilhete.
Voltando à cozinha, entregou-o ao amigo. Willie
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀚
desdobrou o papel e leu em silêncio.
— Nossa, que tipo de maluco escreveria uma coisa
assim? E quem é esse tal de Papai?
— Bom, você sabe, Papai é o nome que Nan usa
para Deus. Mack pegou o bilhete de volta e o enfiou
no bolso da camisa.
— Espera, você está achando mesmo que isso veio
de Deus?
— Willie, não sei o que pensar disso. Quer dizer, a
princípio achei que era apenas uma brincadeira de
mau gosto e fiquei com raiva. Sei que pa-rece
loucura, mas de algum modo me sinto estranhamente
tentado a descobrir. Tenho de ir, Willie, ou isso vai
me deixar maluco para sempre.
— Já pensou na possibilidade de ser o assassino? E
se ele estiver atrain- do você para lá por algum
motivo?
— Claro que pensei. Parte de mim não ficaria
desapontada com isso. Tenho contas a acertar com
ele - disse sério e fez uma pausa. — Mas também não
faz muito sentido. Não acho que o assassino saiba
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀛
que "Papai" é um termo usado em nossa família.
Willie ficou perplexo e Mack prosseguiu:
— E nenhum amigo nosso mandaria um bilhete
desses. Estou pensando que só Deus faria isso...
Talvez.
— Mas Deus não faz coisas assim. Pelo menos
nunca ouvi falar que ele tivesse mandado um bilhete
a alguém. E por que ele desejaria que você retornasse
à cabana? Não consigo pensar num lugar pior...
Pairou um silêncio incômodo entre os dois. Mack
falou:
— Não sei, Willie. Acho que parte de mim gostaria
de acreditar que Deus se importa o suficiente comigo
para me mandar um bilhete. Continuo muito confuso,
mesmo depois de tanto tempo. Simplesmente não sei
o que pensar, e a coisa não melhora. Sinto que estou
perdendo Kate e isso me mata. Talvez o que
aconteceu com Missy seja uma espé-cie de castigo de
Deus pelo que fiz com meu pai. Realmente não sei.
— Mack olhou o rosto de seu melhor amigo, mais do
que um irmão. — Só sei que preciso voltar.
O silêncio se prolongou entre os dois até que Willie
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀜􀀜
falasse de novo. — Então, quando partimos?
Mack ficou tocado com a disposição do amigo.
— Obrigado, meu chapa, mas realmente preciso
fazer isso sozinho.
— Imaginei que você diria isso - respondeu Willie,
virando-se e saindo
do cômodo. Retornou alguns instantes depois com
uma pistola e uma caixa de balas. — Achei que não
conseguiria convencê-lo a deixar de ir e pensei que
poderia precisar disso. Acho que você sabe usar.
Mack olhou a arma. Sabia que Willie estava tentando
ajudá-lo.
— Willie, não posso. Faz 30 anos que toquei pela
última vez numa arma e não pretendo fazer isso
agora. Se aprendi uma coisa na vida, foi que usar a
violência para resolver um problema sempre cria um
problema ainda maior.
— Mas e se for o assassino de Missy? E se ele estiver
esperando lá em cima? O que você vai fazer?
Mack deu de ombros.
— Honestamente não sei, Willie. Vou correr o risco,
acho.
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀓
— Mas você vai estar indefeso. Não dá para saber o
que ele tem em
mente. Leve, Mack. - Willie empurrou a pistola e as
balas na direção dele. — Você não precisa usar.
Mack olhou a arma e depois de pensar um pouco
estendeu lentamente a mão para ela e as balas,
colocando-as com cuidado no bolso.
— Certo, só para garantir. - Em seguida pegou parte
do equipamento e, com os braços carregados, saiu na
direção do jipe. Willie levou a grande sacola de lona
que restava.
— Nossa, Mack, se você acha que Deus vai estar lá
em cima, para que tudo isso?
Mack lhe deu um sorriso carregado tristeza.
— Só pensei em cobrir as várias opções. Você sabe,
estar preparado para o que acontecer...
Quando chegaram ao jipe, Willie entregou as chaves
a Mack.
— E o que é que Nan acha disso? - perguntou.
— Nan e as crianças foram visitar a irmã dela e... Eu
não contei -
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀔
confessou Mack.
Willie ficou obviamente surpreso.
— O quê!? Você nunca guarda segredos de sua
mulher. Não
acredito que tenha mentido para ela!
Mack ignorou a explosão do amigo, voltou a casa e
entrou no e
escritório. Ali encontrou as chaves de reserva de seu
carro e da casa e, hesitando apenas um instante,
pegou a pequena lata. Willie foi atrás dele.
— Como você acha que ele é? - perguntou rindo. —
Quem?
— Deus, claro. Como você acha que ele é? Mack
pensou um instante.
— Não sei. Talvez ele tenha uma luz muito forte ou
apareça no meio de uma sarça ardente. Sempre o
visualizei assim como um avô, com uma barba longa
flutuando.
Deu de ombros, entregou as chaves de seu carro a
Willie e os dois trocaram um abraço rápido.
— Bom, se ele aparecer, dê lembranças minhas -
disse Willie com um sorriso afetuoso. — Estou
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀕
preocupado com você, meu chapa. Gostaria de ir
junto. Vou fazer uma ou duas orações por você.
— Obrigado, Willie. Você é um amigo e tanto. -
Acenou enquanto Willie dava marcha a ré pela
entrada de veículos. Mack sabia que ele manteria a
promessa. Provavelmente ele iria precisar de todas as
orações que conseguisse.
Ficou olhando até Willie virar a esquina e sumir,
depois tirou o bilhete do bolso da camisa, leu mais
uma vez e colocou-o na lata, que depositou no banco
do carona em meio a outros equipamentos.
Trancando as portas do jipe, voltou para casa e para
uma noite sem sonhos.
Bem antes do amanhecer da sexta-feira, Mack já
estava fora da cidade. Nan havia telefonado na noite
anterior dizendo que chegaram à segurança e que
voltaria a ligar no domingo. Até lá provavelmente ele
já teria voltado.
Refez o mesmo caminho que haviam tomado três
anos e meio antes, mas passou pela cachoeira
Multnomah sem olhar. No longo trecho subindo o
desfiladeiro sentiu o pânico se esgueirando e
invadindo sua consciência. Tentara não pensar no
que estava fazendo e simples-mente ir colocando um
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀖
pé na frente do outro, mas os sentimentos e temores
represados começaram a surgir. Seus olhos ficaram
sombrios e as mãos apertavam com força o volante
enquanto ele lutava contra a tentação de voltar para
casa. Sabia que estava indo direto para o centro de
sua dor, o vórtice da Grande Tristeza que havia
minado sua alegria de viver.
Finalmente pegou a auto-estrada para Joseph. Pensou
em procurar Tommy, mas decidiu não fazer isso.
Quanto menos pessoas pensassem que ele era um
lunático desvairado, melhor.
O trânsito era tranqüilo e as estradas estavam
notavelmente limpas e secas para essa época do ano,
mas parecia que quanto mais avançava mais
lentamente viajava, como se de algum modo à
cabana repelisse sua aproximação. O jipe atravessou
a faixa de neve enquanto ele subia os últimos 3
quilômetros até a trilha que iria descer para a cabana.
Era apenas o início da tarde quando Mack finalmente
parou e estacionou no começo da trilha praticamente
invisível.
Ficou ali sentado por cerca de cinco minutos,
repreendendo-se por ser tão idiota. A cada
quilômetro percorrido desde Joseph as lembranças
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀗
voltavam com uma clareza que o empurrava para
trás. Mas a compul-são interna de prosseguir era
irresistível.
Levantou-se, olhou o caminho e decidiu deixar tudo
no carro e descer a pé o trecho de cerca de um
quilômetro e meio até o lago. Pelo menos não teria de
carregar nada morro acima quando retornasse para ir
embora, o que esperava que acontecesse logo.
Estava suficientemente frio para sua respiração pairar
no ar em volta dele, e parecia que ia nevar. A dor que
estivera crescendo no estômago finalmente o
empurrou para o pânico. Depois de apenas cinco
passos ele parou e teve ânsias de vômito tão fortes
que o deixaram de joelhos.
— Por favor, me ajude! - gemeu. Em seguida
levantou-se com as pernas trêmulas e virou-se. Abriu
a porta do carona e enfiou a mão, remexendo até
sentir a pequena lata. Abriu a tampa e encontrou o
que estava procurando: sua foto predileta de Missy,
que tirou junto com o bilhete. Recolocou a tampa e
deixou a lata no banco. Parou um momento olhando
o porta-luvas. Por fim abriu-o e pegou a arma de
Willie, verificando que estava carregada e com a
trava de segurança acionada. De pé, fechou a porta,
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀘
enfiou a mão embaixo do casaco e pôs a arma no
cinto, às costas. Virou-se e encarou o caminho de
novo, olhando uma última vez a foto de Missy antes
de enfiá-la no bolso da camisa com o bilhete. Se o
encontrassem morto, pelo menos saberiam qual tinha
sido seu último pensamento.
A trilha era traiçoeira; as pedras, geladas e
escorregadias. Cada passo exigia concentração
enquanto ele descia para a floresta cada vez densa. O
silêncio era fantasmagórico. Os únicos sons que
podia ouvir eram os de seus passos esmagando a
neve e o da sua respiração pesada. Mack começou a
sentir que estava sendo observado e uma vez chegou
a girar rapidamente para ver se havia alguém ali. Por
mais que quisesse dar a volta e correr para o jipe,
seus pés pareciam ter vontade própria, determinados
a continuar pelo caminho e entrar mais fundo na
floresta mal iluminada e cada vez mais fechada.
De repente algo se mexeu ali perto. Assustado, ele se
imobilizou em silêncio e alerta. Com o coração
martelando nos ouvidos e a boca subitamente seca,
levou devagar a mão às costas e tirou a pistola do
cinto. Depois de soltar a trava, olhou fixamente para
o mato baixo e escuro tentando ver ou ouvir algo que
pudesse explicar o barulho e diminuir o jorro de
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀙
adrenalina. Mas o que quer que tenha se mexido
havia parado agora. Estaria esperando por ele? Só
para garantir, ficou imóvel por alguns minutos antes
de começar de novo a descer lentamente a trilha
tentando ser o mais silencioso possível.
A floresta parecia se fechar ao seu redor e ele
começou a se perguntar seriamente se havia tomado
o caminho errado. Com o canto do olho viu
movimento outra vez e se agachou instantaneamente,
espiando entre os galhos baixos de uma árvore
próxima. Algo fantasmagórico, como uma sombra,
entrou nos arbustos. Ou seria imaginação? Esperou
de novo, sem mexer um músculo. Seria Deus?
Duvidava. Talvez um ani-mal. Então o
pensamento que estivera evitando: "E se for algo
pior? E se ele tivesse sido atraído aqui para cima?
Mas para quê?"
Levantando-se devagar do esconderijo, com a arma
ainda na mão, deu um passo adiante, e foi quando de
repente o arbusto atrás dele pareceu explodir. Mack
girou, apavorado e pronto para lutar pela vida, mas,
antes que pudesse apertar o gatilho, reconheceu um
texugo correndo de volta pela trilha. Exalou aos
poucos o ar que estivera prendendo, baixou a arma e
􀀤􀀃􀀦􀁄􀁅􀁄􀁑􀁄􀀏􀀃􀁅􀁜􀀃􀀺􀁌􀁏􀁏􀁌􀁄􀁐􀀃􀀳􀀑􀀃􀀼􀁒􀁘􀁑􀁊 􀀔􀀓􀀚
balançou a cabeça. Mack, o corajoso, parecia um
meni-no apavorado na floresta. Depois de travar a
arma de novo, guardou-a. "Alguém poderia se
machucar", pensou com um suspiro de alívio.
Respirando fundo outra vez e soltando o ar
lentamente, acalmou-se. Decidiu que estava farto de
sentir medo e continuou a descer o cami-nho,
tentando parecer mais confiante do que se sentia.
Esperava não ter vindo tão longe à toa. Se Deus
realmente aparecesse, Mack estava mais do que
pronto para dizer-lhe umas tantas verdades.
Algumas voltas depois, saiu da floresta para uma
clareira. Do outro lado, abaixo da encosta, viu-a de
novo: a cabana. Ficou parado olhando-a, com o
estômago transformado numa bola em movimento e
tumulto. Na superfície nada parecia ter mudado,
afora o inverno ter despido as árvores e o manto
branco de neve que cobria o lugar. A cabana parecia
morta e vazia, mas de repente transformou-se num
monstro de rosto maligno, retorcido numa careta
demoníaca, olhando-o diretamente e desafiando-o a
se aproximar. Ignorando o pânico crescente, Mack
desceu com decisão os últimos 100 metros e subiu os
degraus da varanda.